Escalada no Oriente Médio pressiona petróleo, dólar e inflação — e consumidores brasileiros devem pagar a conta

A intensificação do conflito entre Israel e Irã acende um sinal de alerta não apenas para a segurança internacional, mas também para os mercados globais e a economia brasileira. A possível ampliação da guerra, envolvendo um país com arsenal nuclear (Israel) e outro que busca alcançar esse poderio (Irã), já provoca um efeito dominó nos preços internacionais, especialmente no setor energético. E o Brasil — altamente dependente de combustíveis fósseis e importações — não ficará imune.
Estreito de Ormuz ameaçado
No centro da tensão geopolítica está o Estreito de Ormuz, controlado pelo Irã e estratégico para o fluxo global de petróleo. Cerca de 25% do petróleo comercializado no mundo passa por essa rota, que liga o Golfo Pérsico ao restante do planeta. O risco de bloqueio, já cogitado pelo governo iraniano, acendeu o alarme no setor de logística e energia.
O Brasil também tem muito em jogo. Parte relevante das exportações de carne para Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos passa por essa região. A interrupção ou atraso nesse corredor pode atingir diretamente o setor agroexportador, um dos motores da economia nacional.
A insegurança já gerou impacto imediato: a gigante do transporte marítimo Frontline, uma das maiores do mundo, anunciou que evitará a rota de Ormuz por causa dos ataques israelenses a refinarias iranianas. O risco para o fluxo de petróleo e gás aumentou drasticamente.
Exportação de petróleo sob risco
Mesmo sem o bloqueio formal do Estreito, os reflexos já são evidentes. O preço do barril de petróleo subiu 12,3% entre 10 e 13 de junho. Só na sexta-feira (13), a alta foi de 7,26%.
Israel atingiu refinarias estratégicas no Irã, como as localizadas nos campos de Shahran, South Pars e Fajr Jam, além de um importante porto de gás natural em Kangan. Isso representa um golpe direto na infraestrutura econômica do país dos aiatolás, que já opera sob fortes sanções dos Estados Unidos.
Mesmo que boa parte do petróleo iraniano seja destinada à China, os efeitos são globais. O petróleo é uma commodity: com menos oferta e demanda constante, o preço global sobe. E quando a China busca alternativas para suprir a falta do petróleo iraniano, passa a disputar barris com países ocidentais — encarecendo ainda mais o insumo.
Combustíveis e alimentos devem subir no Brasil
A consequência imediata para o brasileiro está na bomba: o preço da gasolina e do diesel tende a subir. Mas os efeitos não param aí. Cerca de 65% das cargas no Brasil são transportadas por caminhões. Com o frete mais caro, alimentos e bens de consumo também ficam mais caros.
“O impacto será sentido em toda a cadeia de produção e distribuição”, explica o economista Renan Silva, professor do Ibmec Brasília. “Como nossa matriz de transporte é majoritariamente rodoviária, a elevação do preço do combustível pressiona o frete, encarece mercadorias e chega até o consumidor final.”
Juros altos por mais tempo
Outro efeito colateral do conflito pode ser a manutenção da taxa de juros em patamar elevado, dificultando a retomada econômica. O Brasil já trabalha com índices de inflação acima da meta, o que limita o espaço para cortes na taxa básica de juros.
“A guerra pressiona os preços, e o Banco Central pode ser forçado a manter os juros altos por mais tempo como forma de conter a inflação”, diz Renan Silva. “Isso reduz o consumo, trava o crédito e atrasa o crescimento.”
Instabilidade favorece o dólar
O medo de uma guerra de maiores proporções — envolvendo, por exemplo, os Estados Unidos — causa volatilidade nos mercados internacionais. Em cenários de crise, os investidores fogem para ativos considerados mais seguros, como o dólar.
Resultado: a moeda americana se valoriza e o real se desvaloriza. Isso eleva o custo de insumos e componentes importados, pressionando ainda mais a inflação brasileira.
“O dólar, apesar de todos os questionamentos, é a moeda com maior credibilidade no sistema financeiro global”, lembra Renan. “Esse movimento é semelhante ao que vimos na guerra da Ucrânia: o dólar sobe, o ouro valoriza, e países como o Brasil sentem na veia.”
O Brasil pode estar a milhares de quilômetros do Oriente Médio, mas as repercussões do confronto entre Israel e Irã chegam rapidamente ao bolso do consumidor. A ameaça ao fluxo global de petróleo, a valorização do dólar e a dependência de importações colocam o país em uma posição vulnerável. A guerra, ainda que distante, já é um fator concreto de pressão inflacionária e pode atrasar a retomada econômica.
Fonte: Gazeta do Povo