
Promover o uso da inteligência artificial como forma de reforçar a segurança patrimonial dos cidadãos do Paraná foi o foco de uma audiência pública realizada na manhã desta terça-feira (10), no Plenarinho da Assembleia Legislativa. Durante o encontro, empresários do setor apresentaram soluções tecnológicas que podem contribuir para o aprimoramento das ações do poder público. Representantes das secretarias estaduais de Segurança Pública (Sesp/PR) e de Inovação e Inteligência Artificial (SEIA) expuseram iniciativas que vêm sendo desenvolvidas pelas respectivas pastas.
“A falta de efetivo é uma realidade em diversos estados, e o Paraná também enfrenta essa dificuldade. Porém, com o apoio da inteligência artificial, conseguimos minimizar esse problema”, afirmou o deputado Alexandre Amaro (Republicanos), responsável por propor a audiência. “É fundamental adotarmos essas tecnologias e estarmos na vanguarda do seu uso. Os sistemas precisam estar integrados”.
O secretário estadual de Inovação e Inteligência Artificial, Alex Canziani, iniciou o debate destacando os esforços do governo do Paraná em torno do tema. Ele mencionou a mudança no nome da antiga Secretaria de Estado da Inovação, Modernização e Transformação Digital (SEI), que passou a se chamar Secretaria de Estado da Inovação e Inteligência Artificial (SEIA), mudança aprovada pela Assembleia Legislativa em março deste ano.
Canziani também destacou a criação do Conselho Estadual de Inteligência Artificial (COIA), instituído para orientar a implementação da legislação estadual sobre o tema, cuja primeira reunião ocorreu em maio. Além disso, mencionou a realização de um programa de capacitação na área. “Há diversas inovações que pretendemos levar tanto para o governo estadual quanto para os municípios, com o objetivo de acelerar as tomadas de decisão”, declarou.
O coronel Dalton Gean Perovano, da Polícia Militar do Paraná e coordenador de Planejamento Estratégico e Grupos Vulneráveis da Sesp/PR, ressaltou que a inteligência artificial tem auxiliado na diminuição da violência no estado. Houve queda nos registros de crimes como homicídio e feminicídio — este último teve uma redução de 8,33% no primeiro quadrimestre do ano, após um aumento de 34% em 2024.
Entre as ações que têm fortalecido a segurança pública, Perovano citou o uso de câmeras com reconhecimento facial, boletins de ocorrência integrados e monitoramento eletrônico simultâneo — que inclui o uso de tornozeleiras eletrônicas em agressores. Esses dispositivos permitem o rastreamento em tempo real e alertam se houver aproximação da vítima, em descumprimento de medidas protetivas. Essas ações integram o programa “Mulher Segura”.
A aquisição de novas câmeras de reconhecimento facial pela Sesp/PR, atualmente em fase final de negociações para a inclusão de tecnologia de IA, foi destacada por Evandro Luiz Lustre, perito criminal do Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC), órgão vinculado à secretaria. A iniciativa conta com a colaboração de 120 municípios paranaenses.
Lustre também ressaltou que os equipamentos serão capazes de identificar placas de veículos — algo essencial, especialmente em áreas de fronteira — e detectar comportamentos suspeitos, como o ato de levantar as mãos durante um assalto, contribuindo para o flagrante de crimes.
Iniciativas
Heros Holub Sandano, CEO da HGN Corretora de Seguros, enfatizou a importância de a população do Paraná estar ciente dos desafios e das oportunidades que a integração entre segurança patrimonial e inteligência artificial pode trazer. Ele exemplificou com casos recentes ocorridos na Região Metropolitana de Curitiba, nos quais a tecnologia poderia ter feito diferença.
“Os algoritmos são ferramentas valiosas para analisar dados históricos de criminalidade. Eles ajudam os órgãos públicos a identificar áreas de risco, elaborar estratégias de segurança e distribuir recursos de maneira mais eficiente”, afirmou. Sandano também defendeu a criação de regulamentações que assegurem a privacidade dos cidadãos, equilibrando segurança com liberdades individuais.
O CEO da Haganá Empresa de Segurança Patrimonial e Privada, Chen Gilad, abordou os benefícios de um sistema integrado de câmeras na solução de crimes. Ele citou como essa tecnologia, aplicada em um bairro de São Paulo, permitiu reconstituir os passos de um motorista que atropelou um idoso e fugiu do local. As imagens foram reunidas a partir de 15 câmeras instaladas em apartamentos da região. “Seria extremamente complexo verificar, individualmente, cada condomínio para descobrir se havia imagens disponíveis”, observou.
Gilad também chamou atenção para o problema dos falsos alarmes. “Se cada equipamento emitir apenas um alarme falso por dia — identificando erroneamente um foragido ou um veículo roubado —, teríamos cerca de 7.500 notificações equivocadas diariamente, considerando o total de câmeras em São Paulo”, afirmou. Para ele, é essencial ampliar a integração entre os bancos de dados públicos e privados.
Felipe Szpigel, vice-presidente da Positivo Tecnologia, apresentou produtos da empresa que incorporam IA em supercomputadores e câmeras de videomonitoramento. Ele revelou que estão desenvolvendo uma linha específica para uso em salas de aula, equipada com algoritmos capazes de identificar o nível de atenção dos alunos, uso de celulares, brigas e até presença de armas. “São algoritmos em estágio avançado”, destacou.
A experiência de Israel com inteligência artificial, implantada há cerca de 15 anos, foi abordada por Miguel Nicolaevsky, CEO da Israel Agency. Ele afirmou que a tecnologia ajudou o país a reduzir em 60% os casos de vandalismo, com uso de câmeras que detectam atos como depredação de pontos de ônibus. Segundo ele, a eficiência na resposta a crimes aumentou em 45%.
Nicolaevsky também ressaltou o impacto da IA na gestão pública. “Antes, consertar calçadas quebradas levava até três meses. Agora, a IA detecta o problema e aciona os responsáveis, que agendam o reparo antes que a população perceba”, explicou.
Ele apresentou ainda sistemas israelenses que fazem reconhecimento facial para liberar acessos em condomínios, detectam furtos em supermercados, identificam o lançamento de mísseis e emitem alertas em tempo real, entre outras aplicações.
Fonte: Alep